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"Uma comunidade feita por MULHERES para MULHERES" (Womantrip)

"Nós da Woman Trip acreditamos que o número crescente de mulheres viajantes, não é apenas reflexo de uma conquista pessoal. Mas, também, de uma forte e importante mudança cultural e social, em que as mulheres podem e devem ocupar o espaço público e viajar pelo mundo. E, acima de tudo, exercer o seu direito de ir e vir em segurança e sem sofrer preconceitos oriundos de um mundo machista e patriarcal."

(Womantrip, site: https://womantrip.com/).



Era junho de 2018 quando conheci a Womantrip (agência de viagens para mulheres), em um momento da minha vida em que precisa distanciar-me de tudo, da rotina, do que acreditava ser eu para poder me encontrar de novo, me (re)conhecer e me (re)equilibrar. Passava por um término de relacionamento um tanto conturbado, por feridas antigas que haviam reaberto, dores de uma infância marcada por privações e abusos. Vivia um momento em que parecia que estava fora de controle. Encontrei por acaso na rede social Instagram um anúncio de uma viagem sobre o Egito, e naquele momento comecei a sonhar com aquele lugar, relembrei que na minha adolescência passava horas e dias lendo sobre civilizações antigas, Incas, Maias, Egípcia, entre outras tantas, imaginava as pessoas daquela época em sua glória, tecnologia, poder e cultura, imaginava-me fazendo parte dela e vivendo naquele lugar e época.

Relembrei um sonho que havia se perdido com as andanças e aprendizados neste crescer que é viver, o de um dia conhecer todos aqueles lugares que povoaram meus sonhos de infância. E assim entrei em contato com a Woman pela mesma rede social e após Whatsapp, falei do meu interesse e logo a pessoa que me atendeu, Dandara, me falou sobre a viagem, valores em reais, o que era a Womantrip, enfim, foi uma decisão que tomei e que mesmo sem entender naquele momento o que significava o que iria viver logo futuramente, somente sentia que deveria estar lá, no Egito, em África.

Ao entrar na adolescência, aos doze anos de idade, fiz um compromisso comigo, iria estudar muito, ler todos os livros que teria disponível e iria fazer faculdade, comprar minha casa, ter um carro e ninguém nunca mais me machucaria novamente. No meu primeiro relacionamento sério, vi que aprenderia mais sobre a vida, não esperava reviver o que passei na infância, e isso me desmontou.

No mês de julho de 2018 ao ver os resultados das seleções dos dois mestrados que fiz, e que havia sido aprovada nos dois, em Educação e Diversidade pela UNEB, e em Extensão Rural pela UNIVASF, relembrei deste compromisso da adolescência e senti, pela primeira vez depois de alguns anos, que estava tomando de volta o que era meu, que podia acreditar ainda nos meus sonhos, tudo iria se realizar e que ficaria tudo bem.

Em outubro de 2018 pedi exoneração do meu cargo de professora de educação infantil no município de São Francisco do Conde, recôncavo da Bahia, para me dedicar aos estudos e estar sensível emocional e fisicamente.

Poucos meses antes da viagem a Woman criou um grupo na plataforma digital Whatsapp, para que pudéssemos interagir no grupo e criar um vínculo pré-encontro presencial, isso ajudou a nos conhecer melhor e a nos identificar nos aeroportos e no hotel. Dandara uma das mulheres que projetou a woman, juntamente com sua irmã Larissa, me informou que seria necessário mais uma diária no hotel, eu falei que não teria o dinheiro, estava sem emprego e só voltaria a trabalhar no próximo ano, sem pestanejar ela disse, "tudo bem, nós da Woman queremos incentivar que mulheres viagem mais, descubram o mundo, mesmo quem não tenha condições financeira para isso, vou pagar sua diária e quando você voltar a trabalhar você paga". Se Dandara visse minha reação, veria que estava de olhos arregalados, e lagrimejados. Foi ali que comecei a entender um pouco mais sobre o que significava a Womantrip.

Viajei ao Egito no último dia de novembro, e foram os quinze dias mais incríveis da minha vida. Primeira vez viajando só e para outro continente, com mulheres que não conhecia.

A acolhida no hotel com as outras seis mulheres viajantes foi quente, carinhosa e repleta de afeto, parecia que já nos conhecíamos, aquele abraço apertado, afetuoso como se fosse um reencontro com quem sentíamos saudades a algum tempo.

A cada dia na viagem conhecíamos mais sobre umas às outras, ouvíamos com atenção a história de cada uma, do lugar de onde viemos, paralelamente aprendíamos cada vez mais sobre o Egito, sobre a história da humanidade, e principalmente, sobre nós mesmas. Cada uma carregava uma dor, um motivo que a trouxe nesta trip, alegrias, coragem, medos, e muito mais, e mesmo que sem objetivos claros do que esperar no final daquela aventura, percebíamos nosso crescimento diário, era exponencial, foi visível aos nossos olhos. E vi o quanto podemos ser 'cura' uma para outra.

A cada lugar que visitávamos, os templos, as histórias, víamos como somos pequenas diante do que podemos criar, e como somos grandes quando juntas, como nossa força se revela em nossa criação, na inteligência, feminilidade, coragem, ancestralidade e essência individual e coletiva.

No templo de Abu Simbel, um dos últimos dias de viagem, teve um momento lá dentro que olhei para os lados e estava sozinha, fui entrando naquelas salas, tocando as paredes, e chorei, emocionada, feliz, como se tivesse acabado de reencontrar a mim. E realmente me vi, como que num espelho, o que estava realizando em minha vida... Aquilo representava algo imenso diante de todos que conhecia, diante da história da minha vida.

Fui a primeira da minha família a entrar na universidade pública, e alguns de meus familiares nem acreditaram no fato, outros nem sabiam o que aquilo significaria, por sua simplicidade.

De fato, o que acabava de realizar era grande para todos nós, e em especial para todas nós, mulheres, minha mãe, minhas avós, tias, primas, irmã, elas se realizavam através de mim. Elas estavam comigo ali. Ao voltar para casa, me senti no controle novamente, que poderia seguir em frente, não estava só, havia me reencontrado, e além de mim, com todas que viviam em mim, com aquelas seis mulheres que generosamente dividiram sua força, sua coragem, auto-estima, independência, história e vulnerabilidade nestes dias de atravessamentos e afastamentos pelo Egito.

Angela Davis nos ensina, que enquanto mulheres, juntas, diante dos desafios, medos e prisões, sejam elas emocionais, sociais, econômicas ou até mesmo políticas, nós temos "que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo", a persistência em sermos quem somos é cansativa e por vezes solitária, mas quando lembramos que podemos contar umas com as outras, não nos sentimos mais só.

E hoje por muitas vezes sinto que o que me impede de voar é só apenas meu corpo. Entretanto, com vocês (viajantes) sinto que nada pode nos limitar, nos impedir, que somos preenchidas de mais de mil possibilidades.

Um ano se passou, muitos frutos dessa força foram colhidos. Não posso deixar de registrar que na minha turma de mestrado em educação da UNEB, nós eramos treze mulheres, e reafirmava a cada semana aquilo que compreendi na viagem ao Egito, nós juntas somos poder e cura uma para outra. Parafraseando Freire, eu sou o que sou, porque nós somos.

Agora em fevereiro de 2020 revivi esse intenso movimento de entrega e sororidade ao viajar ao parque Estadual do Jalapão, Tocantins, através da Woman Trip. Sororidade é a união e aliança entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. Ao longo da viagem ouvia os seguintes relatos das viajantes sobre as representações que carregavam antes de nos encontrarmos: "viagem apenas de mulheres?!... Isso não vai dá certo", "quando juntar essa mulherada... sei não", "não vão gostar de mim, toda tatuada..." e outras mais. Frases desconfiadas e cheias de sentido numa sociedade que nos rotulou, condicionou e nos disse sempre quem somos, quem devemos ser, nos comportar, falar, pensar. Enfim, conceituações de uma sociedade machista, fundada no estupro, no abuso físico e emocional de mulheres. Uma frase forte para uma mulher dizer? A verdade é empurrada para baixo do tapete enquanto estamos caladas, enquanto condicionadas não enxergamos o "lugar" que escolheram nos colocar. Mas reagimos, e juntas estamos nos curando. Vejam e sintam o que estou tentando dizer:


"Obrigada à todas vocês que nos acompanham nesta caminhada do empoderamento feminino através de viagens. Vocês são demais! ❤⠀Esse grupo tá diferente... 😊⠀Viagem perfeita, compartilhada com mulheres maravilhosas, muito feliz de ter vivido tantos momentos com vocês!!⠀ Obrigada por tudo meninaaaas!!" Jamille Baracho

"Ao pensar na situação de 17 .Mulheres que acabaram de se conhecer para conviverem juntas, alguns podem achar que será difícil. Fomos criadas socialmente p isso, servir aos homens com naturalidade, não a nós mesmas ou as nossas iguais, nossas irmãs. Fomos contra às expectativas sociais. A viagem foi mais apaixonante a cada dia pq abrimos nossos corações umas às outras. Ajudamos, ouvimos, respeitamos e rimos... Rimos muito. Crescer exige esforço, não físico, mas emocional, costumo dizer que woman trip não é uma agência, mas um projeto, uma pedagogia. Porque apenas nós podemos dizer e mencionar que o significou estarmos juntas nesse momento. Naquele lugar. E crescemos."

Edicarla Correia


"Foram momentos inesquecíveis os que vivemos durante essa viagem ao Jalapão. E sem dúvida, voltamos diferentes: mais empáticas, mais unidas e fortes. Obrigada por fazer parte desse projeto conosco!"

Woman Trip


"Nadar contra a maré é bem difícil os julgamentos aconteceram mas jamais vou deixar me sentir presa por convenções sociais novamente. Vcs me ajudaram muito no meu processo de libertação pessoal e eu nunca vou esquecer esses momentos. Amo vcs pro resto da vida.

[...] Parece loucura mas encarar uma viagem com mais 15mulheres (1eu já conhecia) que eu nunca vi na vida, foi umas das melhores coisas que eu poderia ter feito pra mim mesma. Foram 6 dias muito intensos, no carinho, na sororidade, no companheirismo. Teve muita foto clichê, foto/vídeo q deu errado, foto de paisagem. Não faltou cantoria,risadas, rodízio no chiqueirinho, estrada de chão esburacada. Também teve bons drinks, superação, nascer do sol, pôr do sol, banho de rio, lagoa, a magia dos fervedouros, Cachoeira, Cânion, Duna e Serra. Obrigada a todas por terem me dado a oportunidade de partilhar esses momentos com vcs, por estarem dispostas a ver/ouvir e serem vistas/ouvidas, obrigada por terem feito parte desse momento de autodescoberta, autoconhecimento e redescoberta pelo qual eu tô passando. Vcs serão eternamente especiais pra mim. Um grande agradecimento em especial a @womantrip e @larissadegon por terem proporcionado tanto conforto, tranquilidade e segurança pra todas nós nesses dias, não tinha um nada de errado, tudo funcionou e aconteceu como planejado e isso graças a vcs."

Tati


"É engraçado lembrar os comentários dos outros grupos quando encontravam o nosso “caramba, um grupo só de mulheres!”, mal sabem o quanto esse grupo foi fantástico😍 Com essa Trip aprendi muito com vcs #amo"

Mônica


"Cresci e amadureci!! [...]

Obrigada a você e a @womantrip por momentos tão especiais, pelo carinho e atenção a todo momento. Nossa!! Conhecer este lugar foi incrível e (con)viver com essas mulheres empoderadas, durante esses dias, foi maravilhoso! Voltei mudada, revendo muitas coisas e mais amadurecida."

Ana Paula


"Eu tive o MELHOR carnaval da minha vida Eu estava no lugar que eu mais amo no mundo e com as melhores companhias que eu poderia ter! Eu brincava com elas dizendo: “Gente, esse grupo tá diferenteeee ”. E estava mesmo. Que grupo diferenciado. 16 mulheres de diferentes estados, com diferentes histórias, cada uma com seu jeito.. impossível descrever o quanto aprendi com elas! Gratidão à Deus por ter colocado as pessoas certas no momento em que eu precisava, à @womantrip por me permitir conhecer pessoas tão incríveis a cada grupo que eu acompanho! E obrigada à vocês meninassss, por terem sido tão maravilhosas! Essa trip ficou pra história, vocês pararam o Jalapão kkkkkk"

Larrissa Degon


E há tantos outros depoimentos igual em importância e que nos mostra o potencial da Womantrip, desta pedagogia feminista que a sustenta e que pudemos vivenciar nestes dias de devires formativos.

Vale sempre reconhecer e não esquecer que vivemos em uma sociedade machista e patriarcal. só podemos lutar contra as correntes que nos prendem quando às enxergamos. Nossa! E como isso determina tanto ódio e o revanchismo entre as tantas mulheres.

Sim, vivemos em uma sociedade patriarcal e machista, dia sete de março a ONU, por meio de uma pesquisa, nos revelou que ainda muito temos a lutar, 90% da população mundial têm preconceito contra as mulheres, diante disso continuamos a nos mover, não deixaremos de reconhecer, agradecer e reverenciar às mulheres que deram sua vida, sua dor e luta para que hoje possamos levantar nossas vozes e rostos.

Angela Daves disse que "quando uma mulher negra se move, ela movimenta toda uma estrutura". Quando nos movemos juntas criamos uma onda que nada pode conter. Somos energia pura empurrando preconceitos para fora do tapete social e o jogando no lixo. Desconstruindo a nós, reconstruiremos nações. Quando nos solidarizamos com outras mulheres, muitos temem, alguns não compreendem, outros recriminam e se afastam. Não é um caminho fácil, também não é uma "guerra dos sexos". Igualdade e respeito é apenas direito humano pessoal, coletivo e intransferível.

Diante desses depoimentos é como se escutasse a voz da grande Audre Lorde nos falando que ao me atrever "ser poderosa, a usar minha força ao serviço da minha visão, o medo que sinto se torna cada vez menos importante", é como se sentisse sua força e sua coragem me educando, ensinando mais uma vez.

Agradeço a todas as viajantes do passado, da história, mulheres que atravessaram mares, rios, continentes, criaram epistemologias através de suas dores e partos, criaram para nós um novo conhecimento, uma nova pedagogia, aquela em que acreditamos e nos apropriamos para crescer e aprender umas com as outras.

Agradeço as viajantes da minha família, que saíram a tempos do Nordeste para outras regiões do país, enfrentando mundos de preconceitos para sustentar sua família, a me ajudar a crescer e contribuir direta e indiretamente para hoje eu está aqui, preenchida de mim, ocupando os lugares.

Gratidão às viajantes Womans trip por dividirem comigo sua sabedoria, seu amor, história, força, humildade, sabedoria e coragem. Espero ainda crescer e aprender muito mais com cada uma de vocês, e com todas as demais que ainda irei conhecer. Acredito em vocês, no que construímos e ainda vamos construir. E finalizo este texto com esta citação de Rupi Kaur:


"Qual é a maior lição que uma mulher pode aprender? Que desde o primeiro dia, ela sempre teve tudo o que precisa dentro de si mesma."





Viajantes Womantrip, Egito, 2018.


Viajantes Womantrip, Jalapão, 2020.



Viajantes, 'As 13 mulheres unebianas', 2018.



Viajante Magnólia, minha mãe, representando todas antes de nós, e um dos principais motivos de estar e ser quem sou.


GRATIDÃO.

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