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Saúde mental do adolescente - parte 2


A solidariedade como prática de liberdade



A saúde mental e os transtornos que levam ao sofrimento emocional, psíquico do adolescente foi nossa segunda sala na formação para líderes estudantis, e ontem na escola, também, tivemos uma formação para professores, gestão e coordenação pedagógica, uma conversa sobre suicídio na adolescência, a conversa foi mediada pelo Centro de Atenção Psicossocial - CAPS do município de Filadélfia. Por estarmos no mês intitulado setembro amarelo. Uma campanha recentemente criada para que nossos olhos se voltem com mais atenção para este assunto.

É um tema delicado, em especial para mim, muitos já pensaram que o suicídio é uma saída fácil para os problemas, que é uma fraqueza de quem o fez, mas quem chega a pensar nisso como possibilidade de resolução dos problemas não consegue imaginar a dor que é está naquele lugar que a pessoa, que tenta cometer suicídio, ocupa.

Assim como não é fácil tomar essa decisão, é dolorosa porque envolve não o sujeito que está em sofrimento emocional, mas também sua família, amigos e sua comunidade. Não pense que ele é egoísta e não pensa nos outros, porque pensa sim, e isto torna a dor e culpa muito maiores a ponto de não conseguir suportá-la.

O setembro amarelo tem ganhado força, ainda mais nesta era de ansiedade e acelerar de todas as coisas da vida. Foi criado em 2015, pelo Centro de Valorização da Vida, juntamente com o Conselho federal de medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria. A ideia é promover espaço para debates sobre suicídio e divulgar o tema alertando a população sobre a importância de sua discussão.

Na escola foi discutido índices de suicídio, foi assustador saber que a cada quarenta segundo no Brasil alguém comete suicídio. Nos últimos dez anos as taxas têm crescido exponencialmente, e ficamos nos perguntando o porque e onde falhamos ou contribuímos para. Aprendemos que 98% dos casos apresentam algum transtorno não tratado, ou ao menos diagnosticado, a pessoa em sofrimento psíquico simplesmente não é vista, ou não o é adequadamente.

Levantei a questão interseccional, se for mulher, negra, pobre, imaginem comigo o quanto esta invisibilidade pode crescer. Quem está portanto registrado nestes números?

É possível identificar, no entanto, para obtermos nossa resposta, alguns fatores de risco para o comportamento suicida, além de transtornos psicológicos, o uso de álcool ou outras drogas, exposição à violência, conflitos familiares, história de suicídio na família e experiências estressoras. Quem e onde estão os adolescentes que podem estar mais vulneráveis a estas situações?

Com relação às diferenças de gênero, ser uma menina trans, lésbica ou gay, o que mudar para ela? Aumentaria sua vulnerabilidade? Nos estudos sobre suicídio a adolescência foi observado que as meninas pensam mais e chegam a tentar mais vezes cometer o suicídio, porém entre os meninos o suicídio é consumado mais vezes vezes, morrem mais, pois quando o fazem seus meios são mais agressivos e não dando tempo salvar suas vidas.

Falar sobre esse assunto mexe muito comigo, tenho familiares que já cometeram suicídio, pessoas próximas que já tentaram, e choca tanto registrar e reconhecer que já pensei nisto, tanto no início da adolescência, quanto na fase adulta, uma recaída. Escrevo agora e me deparo ao rememorar tantas coisas, que entre todos que conheço que passaram por estas situações, todas são mulheres. Mulheres negras, pobres, mães de família, mães solteiras, mulheres desempregadas, vulneráveis a situações conflituosas, abusos e outras violências.

É difícil fazer essas relações interseccionais, o quanto que cada questão social está atravessada por entre as questões de raça e gênero. Este é um exercício, e quando o fazemos acredito que estamos descolonizando nossas mentes, para tornar visível o que o controle colonizador teima em apagar e cegar.

É importante dar visibilidade a este assunto, estamos em escola pública, a diversidade de gênero, raça e classes se atravessam neste espaço, e entender sobre quem pode está mais vulnerável a isto por nós professoras e professores, e quanto coordenadora pedagógica da escola, devo estar atenta e sensível a esta questão.

Lutar pela vida não é fácil, envolve auto-estima e uma crença em si imensurável, e em especial sabermos que não estamos sozinhos que temos apoio de outras pessoas, amizade e solidariedade de muitas outras pessoas.

Solidariedade é a chave.

Na terça-feira passada, dia três de setembro de 2019, na última aula de pesquisa aplicada em educação, no mestrado profissional em educação e diversidade, pudemos relembrar os motivos que nos levaram a fazer o mestrado e o quanto a disciplina nos afetou.

Minha palavra para sintetizar foi solidariedade e liberdade.

Quando o mestrado entrou na minha vida, foi na recaída, já faziam muitos dias na cama, rezando para que no próximo dia não acordasse, um amigo meu muito querido que faleceu em junho deste ano, fez minha inscrição, me apoiou para fazer a prova, me lembrando constantemente que eu teria que fazer a seleção. Até chegar na cidade de Jacobina onde aconteceria a prova foram muitos desafios, desde o levantar, o banho, me arrumar, pegar o ônibus errado e ter que descer na chuva às cinco e meia da manhã, pode parecer uma bobagem, mas para quem está em sofrimento emocional isto são fatores que poderiam me fazer desistir da prova, mas fui, pensando na força que recebi de tantos outros que lutaram para que eu estivesse ali. A prova feita feita em meio a orações, lágrimas e filosofia freiriana e Bauman , lembrar das conversas acadêmicas, das leituras anteriores foram de total ajuda nesse momento. E passei. Naquele momento de despedida na última aula, falei que foi como se alguém tivesse pego pela minha mão e puxado pelo meu braço, me salvado.

Portanto, solidariedade.

Há momentos que uma atitude, um incentivo pode devolver a coragem, a força e a vida a alguém, não nos furtemos em sermos solidários, ir contra a maré que o sistema nos obriga a nadar, sejamos solidários e veremos que o amor pode ser uma verdadeira prática de liberdade.



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