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Pista que antecedem a escrita de um diário.

“Você de lá do sertão, lá no cerrado, lá do interior do mato, da caatinga, do roçado”

(trecho da música Lamento Sertanejo - Dominguinhos).



Escrever um diário não é algo fácil, ao mesmo tempo que pode provocar deslocamentos formativos positivos, é esta mexendo com emoções e lembranças que podem nos trazer dor, medo, tristeza.

Mas o que mais me vem à mente neste momento é como podem me ver, um receio de expor fraquezas e ser vista assim, este é um dos motivos que me levam à ser uma pessoa mais fechada, parece difícil me ver assim, sou tão faladeira, mas fechada no sentido de trazer à tona minhas dores.

Penso que se estamos vulneráveis ao mostrar força, imagina se descobrem que na verdade andamos por aí em carne viva. Que complicado não ser real nesta vida de fantasia, fantasia de um ser branco ideal de perfeição, fantasia religiosa de que trabalhar aos sábados vai me levar à um inferno eterno, que expor minhas dores serei uma mulher fraca e vulnerável e portanto não apta à escolha de homens héteros.

P…. !

O que me dá raiva são as tantas irmãs e irmãos que não se recuperam, e são engolidos por essas fantasias que nos aprisionam e nos levam à uma vida sem enxergar as saídas.

Mas há! Acredito na educação como uma grande saída, como Paulo Freire me ensinou ao me formar pedagoga em estudo as suas obras, a educação pode sim ser uma saída, sozinha pode não fazer uma diferença significativa, mas sem ela tampouco haverá rotas de fuga para nós.

E para nós sertanejas e sertanejos, à fé é quase que sinônimo de auto-estima, à fé vai além de crer em um Deus criador, à fé é na vida, que às vezes vem do olhar o horizonte esperando a chuva vim. À fé que nos move vem da terra que nos dá o sustento, vem nos nossos ancestrais que nos inspiram a continuar, vem da gana por viver e re-existir.

À história oficial dos livros didáticos apaga nossa força, quando na grande seca de 1915 tentaram nos cercar de fome, aprisionar nossos corpos magros que precisavam de alimento, de água, nos cercaram e tentaram nos matar, nos apagar da história em campos de concentração. Esconder a feiura de sua incapacidade de se colocar no lugar do outro como se fossemos nós os ignorantes.

Hoje dizem que bolsa família é esmola, que transposição do rio São Francisco foi um elefante branco no sertão. Para quem sempre teve acesso aos “valores da família brasileira” para quem sempre esteve partícipe da “ordem e progresso” não entenderá minhas palavras, minha história, mas também não os culpo, a fantasia que você vive é uma defesa do próprio ego, mas não espere que me cale, não silenciarei porque não aceito ser cúmplice da insanidade que te acomete. Não compartilho do segredo que reforça tua cegueira.

Solidariedade é à chave, a caatinga é solidária conosco, nós à ela. A sertaneja é solidária à outra, minha avó era parteira, minha mãe também foi, e eu por meio da educação, busco ser solidária, por meio de afeto, às vidas que me atravessam. E a escrita... Ela me cura, me faz voltar o meu olhar para as saídas que procuro. Tente!





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