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Palestra sobre Educação, Cultura e Diversidade

Realizada na faculdade UNIASSELVI, aos onze dias do mês de fevereiro de 2020. A palestra teve duração de 1 hora.


Primeiro eu gostaria de agradecer pelo convite e quando minhas colegas me chamaram me deram algumas opções temáticas, mas me identifiquei, senti que neste momento deveria vim falar com vocês sobre este tema, EDUCAÇÃO, CULTURA E DIVERSIDADE, não por ser apenas minha área de estudo, mas por dizer bastante sobre quem sou, de onde venho, do meu lugar de fala, são três palavras que parecem distintas umas das outras, mas perceberão que elas misturam, se casam, e tornam-se coerentes umas com as outras.

Eu me chamo Edicarla, sou professora do campo, rural, ou da roça, filha de lavradores, que conseguiram alcançar algo mais além do trabalho na roça, minha mãe professora e meu pai motorista.

Digo isto porque ninguém nunca é algo pronto, sozinho e acabado, em cada um de nós há traços de nossos pais, tios, avós, irmãos, amigos, histórias de vidas que nos ajudaram a ser quem somos. Podemos dizer que estamos implicados a uma educação e uma cultura que são coletivas, e nos fazem este sujeito que por mais que parece único, é também diverso.

Somos pessoas que trabalham, estudam, fazem seus corres da vida, escolhem diariamente, brigam viajam, amam, produzem cultura e interferem direta e indiretamente na comunidade da qual faz parte.

É o que estamos fazendo hoje aqui, uma interferência ou uma intervenção na vida de cada um que está aqui, estou compartilhando um pouco do que sei, e aprendendo com vocês aqui hoje. E cada ação que tomamos pode parecer pequena, sem importância, mas em algum momento que não estamos percebendo estamos fazendo grandes coisas.

Uma jovem americana, em 1955, negra, costureira, trabalhou o dia inteiro, estava muito cansada no final do dia, já era o final da semana e estava exausta, pegou o ônibus para voltar para casa, tinha um lugar vazio no ônibus, onde se sentou. O nome dela era Rosa Parks. Na próxima parada do ponto de ônibus subiu um homem que vinha também do trabalho cansado, branco, e que acreditava que tinha o direito por sua cor de ter aquele assento e exigiu que Rosa se levantasse, e ela disse não. Se fosse outro dia ela teria se levantado como já tinha feito desde sempre, mas naquele dia ela disse não, se recusou. E essa atitude, que parece ter sido simples, mas muito corajosa desencadeou um grande movimento de luta por igualdade racial nos Estados Unidos.

A atitude dela, o seu não foi um ato político, que desestabilizou toda uma cultura, e contribuiu por transformá-la, a partir do seu olhar, do seu lugar, da sua diversidade. O seu não é até hoje símbolo do movimento que deixou a comunidade afro-americana mais próxima da igualdade.

Nessa mesma época, na mesma década um jovem daqui da nossa cidade de senhor do Bonfim, negro, da comunidade de Tijuaçú, também dava seus passos para mudar sua história, a cultura da sua comunidade, talvez não tenha significado tanto quanto deveria para seu município, Antônio Vieira, primeiro homem negro, pobre, filho de lavradores da zona rural, ascendeu social, intelectual e financeiramente.

Em algum momento alguém confiou neles e contribuiu para a construção de instrumentos que fizessem acreditar em si.

E me digam, qual local, o lugar onde podemos encontrar toda uma diversidade de pessoas em formação, um lugar com cultura própria, que possam oportunizar tais instrumentos?

A escola!

Na escola podemos encontrar um mix de realidades distintas, de identidades distintas, e se não as valorizarmos podemos está contribuindo para a conformação e não emancipação desses sujeitos, que são múltiplos em história, cultura, enfim, diversos.




Conversava em um dos grupos de pesquisa que participo, sobre histórias, memórias da nossa educação e uma colega se abriu nos contou de como há marcas negativas que ainda doíam nela, da palmatória, reclusão, detenção, mas que também tiveram pessoas boas que contribuíram positivamente.

Concluímos dessa conversa que, mesmo que ainda hoje, haja movimentos conservadores e resistentes às mudanças, porque mudar assusta e muitas vezes pode ir até contra àquilo que acreditamos, nossos princípios, nós nunca podemos perder de vista que a escola não é uma via de mão única, com uma única visão, ideologia e um único movimento, há muitos caminhos a serem seguidos, caminhos que podem te podar, mas outros que podem te emancipar, te dá meios para transgredir e se superar.

Eu particularmente acredito na educação pública e na diversidade de sujeitos coletivos que a compõe.


A pesquisa se torna instrumento fundamental para o profissional, mas especificamente, para o professor, por ser esta minha área de atuação, de interesse para pesquisas em educação. A pesquisa é uma das mais importantes ferramentas de trabalho que podemos ter, ela nos propiciará traçar um caminho de observação das demandas, levantamento de questionamentos e indagações, e estas poderão se transformar em objeto de estudo.

Imaginemos uma escola na cidade, no centro, pública, inclinada totalmente para uma educação urbana, cristã, uma educação que alcança na maioria das vezes aquele aluno estável se não financeiramente, emocionalmente. A pesquisa pode nos dá meios para identificar possibilidade para construção de estratégias de visibilizar as necessidades da minha sala de aula e INCLUIR a todos que nela esperam de mim uma atuação política, ou seja, uma posição que busque ouvir, atender.

Se chamamos a escola e seu entorno de comunidade, é preciso que busquemos que esta palavra se torne prática, comunidade é igualdade, é democracia, é um lugar onde todos colaboram para seu crescimento em cultura, social e politicamente, é onde todos tem lugar e importância de fala.

E nesse momento podemos entender mais claramente a relação da cultura, da educação e da diversidade aqui. Cada modalidade de ensino requer uma pedagogia própria, tem uma cultura própria, e é uma riqueza essa diversidade humana, e se essa cultura não se torna a base da construção do currículo, se a diversidade é invisibilizada, nós estamos indo em caminho contrário ao que a escola se propõe, que é contribuir para a formação humana e integral dos sujeitos.

Eu trouxe aqui as modalidades de ensino que existem na educação, para vermos quantos universos podem coexistir no ambiente escolar. E será uma convivência pacífica? Existem conflitos?

Como identificar tais conflitos a fim de que possamos fortalecer e intervir com propriedade teórica e consistência profissional no nosso lugar de atuação? E isto pode ser na escola, na comunidade, na associação da qual fazemos parte, enfim, em todos os lugares da qual participamos e podemos ter de fato uma postura crítica e política.


Eu apresento este trecho da Lei de diretrizes e bases da educação, LDB, para vermos quantas modalidade de ensino nós temos em âmbito nacional, para pensarmos de forma prática e mais crítica sobre as diferentes culturas e sobre a diversidade que a educação abraça no contexto da escola.

Eu coordeno uma escola que possui culturas diferentes dentro de um mesmo espaço, costumamos dizer que são escolas diferentes dentro de um único espaço. É uma escola de grande porte, pouco mais de 700 alunos, mais de trinta professores, escola de ensino médio que oferta: o ensino médio regular, o novo ensino médio e educação de jovens e adultos. Isso no currículo materializado, no papel, o que já é complexo porque temos um currículo em transição, uma escola que parte tem o ensino médio que já conhecemos e o Novo ensino médio, o novo currículo que chegou para nós recentemente e está em construção. Mas em nosso currículo oculto, um termo da pedagogia para explicar a existência dessa educação que se dá no dia a dia, mas muitas vezes não se encaixa nas modalidades legais, no papel propriamente dito. Somos hoje uma escola que atende o campo, o quilombola, o indígena, especial, adulto e idoso.

Pensemos... Será que toda essa diversidade de sujeitos aparecem na prática pedagógica do professor? Quero dizer, essa diversidade, essas culturas que coexistem, surgem como prática educativa na ação, no planejamento de aula do professor? Essas culturas são valorizadas?

Caminhamos para o melhor, perceber a diversidade e valorizá-la, considerando a individualidade do sujeito e a história de vida que ele trás, a bagagem que ele trás ao chegar na escola, porém não é algo perfeito e ainda não foi possível dentro do que consideramos ideal.

Vocês percebem como cultura, educação e diversidade estão imbricadas uma na outra, que o estudo de cultura não pode está distante de compreender a diversidade do sujeito, considerando sua individualidade e o coletivo que também faz parte dele? E, consequentemente faz parte da sala de aula, da escola, do seu projeto político pedagógico. A diversidade ela se torna uma potência no currículo, para o projeto da escola, e não um problema, ela enriquece o ensino e a aprendizagem e não o contrário.




A diversidade pode ser uma força geradora, uma fonte de energia que alimenta nossas visões de ação e de futuro, não pode ser usada para nos separar, enfraquecer. A diferença já tem sido usada cruelmente por séculos, oprimindo povos dolorosamente.

Portanto nossos movimentos devem estar ligados diretamente a discussão sobre diversidade, gerando energia para buscar e encontrar justiça social, ao mesmo tempo que preservamos nossa individualidade. Significa buscar criar rede genuínas de apoio de uns aos outros.


Quando a escola cuida de uns, poucos, e não de todos, ela perde seu sentido. Quando ela não contribui para que cada sujeito, que faz parte da história daquela instituição, para que ele se veja como pessoa capaz de transgredir as expectativas sociais impostas a ele, quando não se vê capaz de transformar a si, sua realidade e de sua comunidade, a escola não está cumprindo o papel que deveria.

Invisibilizar a diversidade no contexto escolar, ou de trabalho, em qualquer lugar que ocupamos, deixa no outro uma marca negativa, e em nós também, carregaremos isso. Na identidade do outro e em nós.

Impor uma cultura, nesse caso a dominante, é violentar, roubar, diminuir a diversidade, a complexidade e a individualidade do outro. É preciso que essas palavras-chaves (educação-cultura-diversidade) continuem inseparáveis, sejam nos documentos oficiais, sejam nas nossas práticas diárias, em nossas pesquisas, no modo como olhamos para nós e para o outro.


'Somos porque estamos sendo'... Sendo vem do verbo ser e está no gerúndio, significa que é uma palavra em movimento, o meu eu está sendo um nós, não sou professora porque sozinha não faço meu trabalho, sendo estou porque faço parte de um coletivo que se movimento, que caminha, cresce, ou deveria crescer, só estamos sendo porque somos uma coletividade, ao passo que construo e fortaleço minha identidade, o faço porque estou em meio a uma coletividade, aprendendo com ela, junto a ela e através dela reforço quem sou. E 'estar sendo é condição, entre nós, para ser', ou seja, é esse movimento, é este caminhar em comunidade que é fator imprescindível para que possamos continuar crescendo enquanto sujeito, pessoa que possui identidade própria, indivíduo, mas também enquanto comunidade.

Ás vezes, infelizmente, enquanto coordenadora de uma escola, e que convive com muitos professores, já ouvi de colegas dizerem, já estou concursada, tenho meu emprego, eles (os alunos) que se virem, eles não querem nada, eles nunca serão nada, eu já estou com minha vida ganha, se ele não quer, não posso fazer nada.

Enquanto eu não entender que as consequências de tantas mazelas e desigualdade, e a invisibilidade que assuma os diversos sujeitos os conformam em uma auto-estima baixa, em sua condição de vida, os impendem de até mesmo sonhar, eu não vou conseguir tomar uma posição justa socialmente dentro do meu trabalho, dentro da sala de aula.

Preciso compreender que tanto o outro quanto eu, somos parte de um processo em crescimento, em constante aprendizado e que todos nós podemos contribuir para o fortalecimento dessa troca de conhecimento.

O meu crescimento pode significar a assunção do outro, em algum momento a questão social que atinge o outro, que o condiciona e aprisiona em uma esfera de constante violência e problemas sociais, pode chegar até a mim de alguma forma. Precisamos nos ver enquanto comunidade, seja qual profissão seguir, aqui hoje temos vários cursos de graduação e especialização, independente de está sendo estagiário, já está atuando, iniciando a pesquisa, ou começando a estudar hoje no ensino superior, precisamos entender, que dá mesma forma que em algum momento na nossa história de vida tivemos alguém que confiou em nós, que nos apoiou, pode ter sido um amigo, mãe, avô, tio, um professor... Alguém confiou em nós, precisamos confiar também em quem espera de nós um olhar mais humano, independente de nossa profissão ou espaço de atuação profissional.

E quanto mais eu me incluo nesta comunidade da qual pertenço e contribuo com ela vamos perceber o que Paulo Freire nos ensina, mais eu assumo 'a radicalidade do meu eu'. Mais me encontro, me (re)conheço no coletivo.

É preciso internalizar que somos o que somos hoje por conta da nossa história, construímos uma identidade particular, individual, que é única, mas foi forjada num seio cultural, histórico, coletivo e diverso, precisamos reconhecer a diversidade que existe em nós para respeitar as tantas outras que existem no outro. Não é a exclusão do outro que me faz ser melhor, mas a compreensão do que seja esse outro que me faz assumir a radicalidade de quem sou, assumir a minha individualidade.



Trouxe esta professora memorável, que em uma palestra nos ensinou tanto, sintetiza muito do que já foi falo aqui e nos deixa um questionamento: "que tipo de mundo realmente queremos fazer parte?"

Boa noite e obrigada.




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