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Entre labirintos e saídas

Trajetórias formativas de uma disciplina de Pesquisa Aplicada a Educação no mestrado profissional Educação e Diversidade - UNEB


Este diário, veículo cujo qual uso para expor minha ideias, ainda que muitas vezes intuitivas vindas da emoção que atravessam minha história de vida nasce ainda muito antes do mestrado, de viver nesta de deslocamento formativo enquanto pedagoga, professora, coordenadora pedagógica, enquanto pessoa. Nasce na infância, quando minha madrinha me deu um diário, ali foi meu primeiro campo de registro de mim, meu primeiro ato de fala, tinha por volta dos sete a oito anos de idade, escrevi minhas vivências mais dolorosas e também as mais felizes, creio no que Hooks fala quando construímos teoria na dor, não construir teorias, mas aquele fato me deu memória e experiência de um suporte discursivo para poder me sentir a vontade atualmente em redigir mais uma vez um diário, agora numa plataforma virtual, fazendo ressoar reflexões multirreferenciais de um saber/fazer/pensar/sentir pedagógicos.

Ao ler os capítulos um e três do livro Diários de pesquisa na cibercultura: narrativas multirreferenciais com os cotidianos, de Edméia Santos e Stela Guedes Caputo, vimos que os diários não são novos, antes estes cadernos escritos a punho de seus autores ficavam no campo privado, íntimo, muitas vezes em segredo. Na pesquisa em educação, ou outras áreas do conhecimento os diários eram ferramentas substanciais do ato de pesquisar, o principal recurso de registro através de uma escrita densa, que eram divulgados por meio da imprensa, distribuídos em diversos espaços.

Vale que os diários, antes ou agora, em sua nova versão, digital, acompanhando os movimentos de uma sociedade cibercultural, eles tem a capacidade de compartilhar sentidos de forma "síncrona ou assíncrona", partindo do pressuposto que todos nós, eu e você, aprendemos a partir deste instrumento. Percebo isto claramente quando escrevo, começo que certo sentimentos que levam a entrelaçar as experiências atuais com minhas memórias educativas e de vida, e termino o texto mais próxima a processos de cura de minhas inquietações, consigo aprofundar questões ainda envoltas por dúvidas, construir encaminhamentos e intervenções, visualizar novas possibilidades, saídas neste labirinto que se dá os processos formativos.

Gostaria de deixar meu relato que na (auto) formação a partir da rememoração, reflexão do vivido na disciplina de Pesquisa Aplicada em Educação, no segundo semestre do Mestrado Profissional em Educação e Diversidade. O primeiro pensamento, que se aproxima de sentimentos também, é de segurança, como se tivéssemos encontrado um norte a seguir. O primeiro semestre estamos todos envolvidos numa ansiedade de dar título e nomes aos nossos projetos mesmo antes de entender o que é o tal do paradigma. O que não é nada fora do comum, na aula 5 (cinco), no estudo e discussão norteada pelo texto O que é um estudo de caso qualitativo em educação? Por Marli André (Revista FAEEBA, nº 40) - apresentado em trio, pudemos ver que esta necessidade de dar um nome, ou entender de que tipo é a nossa pesquisa é algo que realmente acontece neste início.

Hoje estamos aqui, escrevendo e refletindo sobre nosso processo de profissionalização docente, no lugar de pesquisadoras em educação, na pretensão de buscar as respostas que nos angustiam, que às vezes parecem até pequenas diante da ansiedade de realizar as primeiras explorações e validar instrumentos.

Logo na primeira aula tivemos uma roda, e ouvir das professoras “a roda tem que girar” era meio “nossa! O que dizer diante delas, somos tão faladeiras, e naquele primeiro dia, estamos meio quietas, não era medo de se colocar, era, pelo menos no meu caso, não querer decepcionar”. Até neste ponto amadurecemos, aprendemos que temos limites, os confrontamos, alguns são ultrapassados, outros estamos tentando lidar com eles. Tantas angústias e medos, como crianças no primeiro dia na escola, tentando decifrar cada palavra da professoras e tentando dar passos mais acertados possíveis.

Muitas contribuições e aprendizados levamos neste primeiro dia, Boaventura de Souza Santos citado pela autora Ivanilde Apoluceno, nos capítulos indicados para leitura, capítulo 1, sobre as bases epistemológicas das pesquisas em educação, esse processo de busca, de conhecimento, até mesmo de si, um caminho de auto conhecimento para encontro com nosso “eu” paradigma. E o capítulo 6, a necessária volta ao lar na pesquisa, a busca do Sul, voltar para o Sul, uma pesquisa em educação para o Sul, sustentada por bases decoloniais, uma ecologia de saberes.

Hoje entendemos quando as professoras do componente nos dizem que precisamos buscar construir metodologias próprias da educação, saberes que partem da compreensão da historiografia da educação, do nosso percurso enquanto professoras e alunas, para construir novos processos de construção de conhecimento. A importância do Ateliê de Pesquisa, construído pela professora da disciplina, logo antes citada, cresce diante desta compreensão, uma metodologia criada por, pela e para a educação.

Aprofundamos tantas quantas abordagens de pesquisa que numa única escrita seria difícil sintetizar para você, caro leitor, mas o que posso apontar para você nesta noite, ao som de Nando Reis, que conhecer as metodologias, as teorias, os paradigmas, sanar a ansiedade de saber de que tipo é a nossa pesquisa, nomeá-la, conhecer suas formas, tons e abordagens, as linhas e estradas pelas quais nossa pesquisa se conduzirá é tão importante e inerente ao processo formativo da pedagoga-estudante.

Não é por acaso, o processo de construção do conhecimento não é uma linha tênue, reta e sem atropelos, pelo contrário, temos que sair do nosso território de conforto e se permitir desterritorializar, desmantelar construções fechadas para abrir muitas janelas, para oportunizar novos planos que nos conduza a um fazer/pensar multirreferencial.

Considerando o pesquisador um sujeito multicultural, carrega em si histórias, dores e lutas, que atravessam seu processo de construção de si e sua visão de mundo. um sujeito multicultural, caro Creswell, primeiro te agradeço pelas suas contribuições, que nos trouxeram, por meio de uma linguagem leve e acessível, considerações sobre as várias abordagens e paradigmas de pesquisa, em especial a pesquisa qualitativa (complementados por outros autores citados, a exemplo de Minayo, Fazenda, Luna, Canen e Ivenicki, Lakatos e Marconi, entre outros), sendo esta abordagem uma das mais utilizadas na educação, pois não seria possível outra, considerando que caminhamos para uma educação cada vez mais cooperativa, com práticas compartilhadas e relações cada vez mais horizontais.

Ainda abrindo possibilidades para o afeto, não num sentido romantizado, mas na compreensão da necessidade de se permitir afetar pelo outro e ser um sujeito que pode afetar, transformar, num ir e vir de afetos, ampliando olhares, chegamos assim na compreensão do que seria este fazer/saber/pensar/afetar multirreferencial.

Uma das palavras que nos conduziram nesta jornada de aprendizados metodológicos e teóricos, foram as palavras: afetar, lentes, desterritorializar, diálogo, diversidade, além de outras que não vieram à mente neste momento. Pois o diário é isto também, o agora, contamos com reflexões autorais do agora. Cada “verso”, cada palavra são reflexões que me conduziram a este momento, mesmo atravessada por diversas contingências sociais. Por isso permito e aceito os afetamentos que a educação e diversidade podem me trazer a cada momento de ensino e aprendizagem que nos foram oportunizadas.

Muitas dessas palavras falam por si, mas que sinto que devemos conversar sobre, afetar, permitir esta aberto a uma escuta crítica e sensível, e saber sua hora de intervir com suas proposições, no sentido de contribuir para o crescimento do processo formativo do outro; diversidade de tons de gênero, raças, teorias, epistemologias, paradigmas, estes as lentes pelas quais tentamos moldar nossas ações a partir da desconstrução de nossas mentes. Desterritorializar poderíamos chamar de “produto” desse processo formativo, inerente e resultado positivo desta desconstrução e deslocamento que fazemos quando nos permitimos ser afetados pela diversidade enquanto fio condutor de nosso fazer/pensar educação, nossas linhas de estudo e pesquisa e por que não, nosso paradigma. O diálogo foi nosso instrumento para alcançar o deslocar, o afetar, para que criássemos novas lentes para ir e vir, conhecer e se reconhecer, de forma que nos aprendemos de novo.

O caminho que trilhamos juntas, em nossa turma, treze mulheres percorrendo colaborativamente este labirinto formativo, será sempre lembrado em nossas pesquisas, cada uma de nós contribuiu no entrelaçar dos retalhos da outra, realmente costuramos uma colcha, a sensação pode ser de um pouco de cansaço, mas vejo felicidade e orgulho em nós pelo que ainda estamos construindo, e, principalmente, diante do que visamos construir, para nós, para o outro, para o todo. E como a ética se transforma na própria linha, necessária para as amarrações que serão feitas, ética muito debatida na última aula realizada antes da concretização deste diário, ou como poderíamos chamá-lo também, lugar de deslocamento.

Estivemos em meio a ricas trocas de diversos conhecimentos que potencializaram nossas aprendizagens, que iremos levar para nossos contextos de pesquisa, de atuação, momentos formativos atuais e futuros.

Passamos por muitos labirintos, mas a todo momento estivemos juntas, sob orientação, como girassóis na formação com sobre educação popular, mapeamos e cartografamos por meio de diários conhecimentos, angustias e inquietações, labirintos e não ruas sem saída, por saímos para tomar novos rumos, mais esclarecidos, não retos, apenas com mais segurança e aprofundamento.

A potência dos afetos na e para a educação emergiu da vivência experienciada em discussão no componente curricular pesquisa aplicada em educação, pela primeira vez eu ouvi esta expressão neste contexto, e foram estas conexões afetivas que nos trouxeram ou nos oportunizaram as possibilidades de novas janelas de compreensão e amplitude dos temas e das questões levantadas, metodológicas e teóricas, e permitiram que o saber/pensar fossem mais acessíveis, através desta relação horizontal entre professoras e alunas; e, alunas e alunas.


Quantas possibilidade nos dá a escrita de um diário, consegue ver o retomar? O refletir sobre o que passou ao passo que ressignifica o que estamos vivendo exatamente agora, é redesenhar o percurso já percorrido, dá a ele novos sentidos e significados. Um processo (auto)formativo e formativo, colaborativo, horizontal. Um processo que se transforma enquanto se forma, enquanto ganha forma. Na expectativa de construir uma educação neste ensaio de diversidade, do diferente, do heterogêneo.

Percebam que aprender a falar é uma ação que se constrói tanto quanto se escreve, a fala ganha contornos na escrita, materializa-se, e ao falar ganhamos espaço, lugar, uma posição, e isto é também transgredir, um ato de liberdade, esta é a educação que quero construir, que aprendo a cada dia com minhas professoras e outros professores e professoras, uma educação pela liberdade.


Meu diário de infância meu voz num momento em que não tinha lugar de fala nos espaços que ocupava, me ajudou no meu processo formativo, enquanto lugar de cura e de ressignificar minhas experiências, era meu lugar de verdade, ele ficava escondido o quanto possível fosse, me deu apontamentos para quem sou hoje, é meu lugar de diálogo entre teoria, onde converso com homens e mulheres que vieram antes de mim, numa relação horizontal, entre quem afeta meu processo formativo e eu, e agora você.



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