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CENÁRIOS VIVENCIADOS E CAMINHOS PERCORRIDOS

PLANO DE FORMAÇÃO CONTINUADA TERRITORIAL - FTC - SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA



A Formação Continuada Territorial, plano de formação da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, veio para nós, coordenadoras e coordenadores pedagógicos e gestoras e gestores escolares, em tempo hábil, considerando o contexto da pandemia e as dúvidas e incertezas que nos cercam, que vem junto ao novo contexto que vivenciamos a nível mundial. Além do medo que nos atravessa. Nossa formadora, Cecília Cabral Mascarenhas, responsável por coordenar as atividades junto conosco, nos acolheu com as seguintes palavras: “Aprender coisas novas me fascina!! E neste sentido, a formação continuada territorial tem dimensões grandiosas pelas possibilidades fecundas, desafiadoras, que serão tecidas por educadores que nos brindarão com suas histórias de vida, trajetórias de estudos e formação nos textos que produzirão. As trajetórias de luta que vivenciamos, nos convocam a aprender, mas acima de tudo queremos o que toda pessoa humana almeja: sermos felizes!”. (MASCARENHAS, disponível no fórum, no ambiente ead da FCT, 06 de maio de 2020, às 14h58min).

A formação continuada para coordenadores (as) pedagógicos (as) e gestores (as) escolares teve início ano passado, de forma presencial, este ano devido a pandemia que nos acomete, estamos utilizando a plataforma digital Moodle. Tal formação foi pensada e construída pelo Instituto Anísio Texeira, órgão em regime especial de administração direta da Secretaria Estadual da Educação da Bahia, com base no Regimento (Lei nº 8.970/94) que tem por finalidade planejar e coordenar estudos e projetos referentes a ensino, pesquisa, formação e experimentações educacionais.

Cecília, nossa facilitadora, foi muito feliz em suas palavras, sempre competente, as articula aos ideias que buscamos para à educação, o ato de aprender deve ser fascinante, deve fazer nossos olhos brilharem diante das descobertas, e a formação continuada para nós coordenadores e coordenadoras pedagógicas vem neste sentido, trilhar novos caminhos para que possamos, junto aos nossos pares e à comunidade escolar levar a escola para águas mais profundas em saber, pesquisa e inventividade.

Não imaginem a escola da qual me refiro à sua estrutura física, aos seus muros altos, refiro-me a cada pessoa que dela participa e a torna um organismo vivo e mutante. Neste texto pretendo falar da primeira etapa da formação continuada territorial, que dei início no dia 08 de março de 2020, e conclui a primeira etapa dia 04 de julho deste mesmo ano.

Explorar a plataforma era um dos primeiros movimentos, como criança quando aprende a andar assim é o professor/coordenador/gestor, quando não se tem intimidade com estes novos ambientes, diante do uso de novas ferramentas tecnológicas. O moodle foi de fácil uso para mim; dispositivos formativos diversos com slides, vídeos, atividades, textos, e o fórum, que visava garantir a interação entre os pares e entre estudante e formadora. Quero dizer que o título deste texto foi sugerido por ela, Cecília Cabral Mascarenhas, inclusive. E é com este tema que tentarei guiar hoje estas palavras, que buscam refletir sobre o caminho formttaivos que trilhamos nesta primeira etapa do Plano Territorial de Formação.

Uma das primeiras ações foi darmos um nome ao nosso grupo de estudos, foi quase unânime a escolha por ‘turma prof Paulo Batista Machado”, ele foi professor da Universidade do Estado da Bahia, campus Senhor do Bonfim, secretário de educação do município, vice-prefeito e prefeito de Senhor do Bonfim, Representa grandes feitos e avanços na pesquisa em educação, formação docente e para a política pública educacional de todo o território. Considerando que a UNEB representa uma casa que vem formando professores à vinte e cinco anos, muitos de professores do território foram alunos do prof Paulo.

Uma segunda sugestão cotada foi o nome do prof Antônio Vieira, primeiro professor a alcançar o título de pós doutor, na década de 60, onde o analfabetismo no Brasil alcançava mais da metade da população do território, homem de origem humilde, negro, da zona rural de Senhor do Bonfim, de comunidade remanescente quilombola, a comunidade de Tijuaçú, e nunca conseguiu à visibilidade e valorização devida em nosso território, não existem ruas ou escolas com seu nome, seus livros, poemas, história e contribuições não estão nos planos curriculares das escolas do município natal. Antônio Vieira era um homem negro que alcançou patamares inimagináveis para muitos de comunidade rural e quilombola de Senhor do Bonfim, palestrou em universidades renomadas por toda a Europa e nos Estados Unidos, sobre educação. Foi professor da Universidade de Ilê-Ifé, em Nigéria, África, dominou diversos idiomas, como inglês, espanhol, francês e a língua iorubá. Foi apenas um voto, uma sugestão, devendo-se, portanto, respeitar a escolha da maioria.

No total, o percurso formativo do Plano Territorial de Formação possuiu 12 unidades, nesta primeira etapa. De 1 a 7, destinada à gestores/as escolares e coordenadores/as pedagógicos/as; e, de 8 a 12, somente para coordenadores/as pedagógicoas/as. Estudamos pontos importantes desde o início, como as concepções da Formação continuada, a partir das reflexões levantadas por Antônio Nóvoa; analisamos Estudo de caso que nos fez refletir e levantar proposições acerca da questão da Evasão Escolar; currículo; e, avaliação da aprendizagem.

Compreendemos que o trabalho formativo caminha quando nós educadores nos enxergamos sujeitos pensantes e construtores dos processos educativos, que o diálogo é imprescindível para a construção destes fazeres pedagógicos, sem a pergunta, a troca com nossos pares, os passos serão curtos e com mais dificuldades, a educação se faz no coletivo, em comunidade, comum+unidade. Um coletivo de pessoas, atores, atuantes em prol de um objetivo comum, pensar educação, fazer educação e refazer também, nesse percurso formativo de pensar e repensar nossas ações, epistemologias e paradigmas.

O objetivo geral do Plano de formação foi o de construir em nós profissionais da educação, coordenadoras/es e gestoras/es, uma "cultura de Formação Continuada em Contexto Profissional, que considere as práticas pedagógicas e de gestão escolar, com foco no fortalecimento das aprendizagens dos estudantes da rede pública de ensino da Bahia". Motivo pelo qual, ainda temos dentro da escola, dificuldades de enxergar, tratar e fortalecer os espaços e os momentos formativos como essenciais para atender as demandas pedagógicas existentes e criar novas propostas, projetos e ações para a educação, no chamado ‘chão da escola’ que cada sujeito atua.

E mesmo na formação on-line encontramos tais dificuldades, a troca, a interação, a vejo ainda como sorrateira, tímida, os participantes interagem no fórum deixando suas contribuições e não há envolvimento dos colegas em deixar críticas ou sugestões nas publicações de seus pares. A interação que existe é entre facilitador e estudante.

sabemos que uma educação on-line, para que seja efetiva e atenda os princípios da educação à distância, precisa garantir a interação entre os sujeitos participantes, vale dizer que a plataforma moodle da formação continuada territorial cria espaços e momentos para tal, porém, é preciso que nós façamos isso, que nos aproprie e utilizamos este espaço para trocar informações com os colegas.

Levo em consideração o contexto da pandemia, que para manter uma rotina profissional como antes não é possível, pois estamos no ambiente do lar e muitos condicionantes nos tiram do movimento formativo, nos tiram à concentração. Muitas questões nos atravessam e nos impedem de realizar leituras aprofundadas e sensíveis, complexificando a formação e a colocando num nível crescente de reflexão.

Precisamos destacar também que o excessivo número de horas em frente ao computador, celular, tablet, às vezes concomitante, para uso das ferramentas formativas, é extremamente exaustivo, vai além das horas que normalmente estaríamos utilizando para o trabalho formalmente exercido nas escolas. Nosso comportamento diante da sobrecarga de estudo e trabalho on-line pode nos fazer encontrar maneiras, mesmo que inconsciente, de economizar esforços, devido ao estresse.


" A intensificação leva os professores a seguir por atalhos, a economizar esforços, a realizar apenas o essencial para cumprir a tarefa que têm entre mãos; obriga os professores a apoiar-se cada vez mais nos especialistas, a esperar que lhes digam o que fazer, iniciando-se um processo dedepreciação da experiência e das capacidades adquiridas ao longo dos anos. A qualidade cede o lugar à quantidade. [...] Perdem-se competências colectivas à medida que se conquistam competências administrativas. Finalmente, é a estima profissional que está em jogo, quando o próprio trabalho se encontra dominado por outros actores" (Apple & Jungck, 1990, p. 156 Apud NÓVOA, 1992, p. 11).


Quando nossos pares respondem as atividades e as postam nos chats, nos fóruns e nas abas indicadas pelo programa de formação, nestes mesmo ambientes que nos permitem interagir com questionamentos, críticas, acréscimos ou sugestões, nós não o fazemos, talvez deixemos para outro momento, pois temos também outros espaços formativos para darmos participar, à exemplo de pós-graduação, grupos de estudos e grupos de pesquisas vinculados à universidades, grupos de estudos e atividades on-line da própria escola que trabalhamos.

Segundo Nóvoa: “A formação de professores tem ignorado, sistematicamente, o desenvolvimento pessoal, confundindo "formar" e "formar-se", não compreendendo que a lógica da actividade educativa nem sempre coincide com as dinâmicas próprias da formação.” (1992, p. 11). Cabe a nós valorizarmos mais nossas oportunidades de formação, não se trata apenas de “novas configurações” da profissão docente, de se apropriar de textos e pensar em novas metodologias, é um capital cultural e intelectual que acrescentamos enquanto sujeitos pensantes que constrói diariamente uma sociedade que pede, que exige de nós atuação política, crítica.

É a responsabilidade que deveríamos ter com todos que contribuíram direta e indiretamente para estarmos aqui hoje, e maior ainda, à responsabilidade que temos conosco, nossa vida, nossa profissão, num sentido mais subjetivo, profundo e íntimo, pois somos este sujeito que é ser, sensível, pensante e atuante, um ser complexo constituído de mutias frentes e atravessamentos. Que cria e recria possibilidades e paradigmas.

Ainda segundo Nóvoa: “A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência.” (p.12)

Sem a interação, sem o diálogo, independe se estamos conectados virtualmente utilizando a tecnologia e a conectividade que a internet nos permite, ou presencialmente, a formação é em vão, no sentido de não atingir seu objetivo. As críticas em torno da educação on-line que está acontecendo neste momento dirigidas às escolas de educação básica, é justamente neste sentido, à sobrecarga dos professores e professoras na execução de planos, na intenção de instruir sobre conteúdos, e não garantindo a interação entre os sujeitos. A formação humana fica aquém neste processo, fica às margens da pedagogia crítica, de uma pedagogia para a libertação. O diálogo é essencial para consolidação de saberes emergentes.

Outro exemplo disso foram as atividades sugeridas nas etapas 7, 8 e 12, em que refletimos sobre a importância do Plano de Ação da Unidade Escolar, sobre a revisão dos paradigmas educacionais e a Agenda da coordenadora/or pedagógica/o.

O plano de ação escolar é um documento onde são planejadas as atividades que serão realizadas para atingir as metas e os objetivos da escola. Dessa forma, as/os coordenadoras/es e professoras/es, com maior facilidade, conseguem acompanhar se os resultados esperados para a escola naquele ano serão atingidos. A atividade sugeria que construíssemos um plano em conjunto com os respectivos gestores/as escolares da escolas que atuamos e compartilhássemos no ambiente virtual, assim trocaríamos ideias e potencializaríamos nossos planos no coletivo. Porém apenas houve a indexação dos arquivos sem o compartilhamento de ideias.

Para pensarmos sobre a necessidade de revisão dos paradigmas epistemológicos da educação, foi sugerida a leitura do texto Procurando outros paradigmas para a Educação, escrito pela educadora Marta Elizabeth Barros de Barros, publicado na revista Educação & Sociedade, em 2000. O texto da autora foi inspirado nos trabalhos de Deleuze e Guattari, que faz uma análise das práticas educacionais pautadas no paradigma cientificista, as autoras nos propõe novas práticas educacionais pautadas em educação para a liberdade, para a pesquisa, uma educação humana, que integre os saberes construídos historicamente pela humanidade com os saberes locais, construídos em comunidade, fazendo acontecer sentido e significado em níveis críticos e políticos. (Para uma leitura mais aprofundada sobre o texto de Marta Elizabeth Barros de Barros, leia o ‘Post’ da publicação anterior à esta, intitulado Novos Paradigmas para a Educação, neste site)

Quanto a atividade da Agenda da coordenadora pedagógica, particularmente, estou nesta profissão há um ano e seis meses, estes momentos formativos são de grande valia para compreender cada vez mais meu lugar e papel nesta função. Em especial, na compreensão e valorização da agenda pedagógica. Uma forma de destrinchar objetivos, organizar ações que demandam atenção mais urgente e estipular metas.

O Plano de Formação Continuada Territorial em Educação, que a Secretaria de Educação do Estado da Bahia nos propõe é extremamente válida, contextualizada, com uma seleção de textos e materiais que nos fazem refletir nossas práticas, nossos paradigmas, nossa postura individual no coletivo, bem como em que moldes se dá essa própria formação, por ser fóruns abertos em todo o processo formativo, para que possamos revisitar e acrescentar novas informações a todo tempo, ficou aberta também para que apenas colocássemos contribuições sem responder e contribuir com os colegas. Segundo Nóvoa:

“Não se trata de mobilizar a experiência apenas numa dimensão pedagógica, mas também num quadro conceptual de produção de saberes. Por isso, é importante a criação de redes de (auto)formação participada, que permitam compreender a globalidade do sujeito, assumindo a formação como um processo interactivo e dinâmico. A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando” (1992, p.13).

Retomando o título deste texto, o cenário formativo depende, está entrelaçado, ao percurso que decidimos tomar, seguir. A segunda etapa da formação já está disponível, dividida em dois módulos, o primeiro: A educação é um encontro humano; o segundo, Produção colaborativa do painel de desafios. Desejo que esta reflexão possa servir para que vislumbremos a formação que queremos realizar na nossa escola e a trilha formativa que estamos construindo.

Eu acredito que estamos incluídos nesta política pública, na Educação, por querer mudanças positivas que valorizem cada ser, que descolonizem mentes e corpos dos sujeitos que estão inseridos nelas, toda a comunidade escolar, toda comunidade. Porém este é um caminho que não se faz só, e sim na companhia de muitos, de tantos outros. Eu sou porque nós somos, na educação é assim, somos o que construímos coletivamente, colaborativamente, são os frutos que plantamos, que colhemos, são os saberes que compartilhamos, as crenças, valores e diversidades que nos atravessam e nos constitui sujeitos, nunca únicos, no sentido de só, mas coletivos, e isso é o que nos torna particular.



NÓVOA, António. Formação de professores e profissão docente. Lisboa: Dom Quixote, 1992.




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