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Alguns olhares: palavras, poemas

Algumas trilhas partilhadas.


Me pego pensando quando tenho medo:

Se tudo isso nos tornará mais solitários?

Distantes não apenas fisicamente, geograficamente...

Ma no momento sinto tanta gratidão neste peito cansado

que sinto sarar todas essas angústias

Vivo no aguardo,

No teu aguardo.

Vida minha, distantes sim

Sozinhos nunca, estamos juntos, juntas

Conectados em redes de conhecimentos, aprendizagens

Conectados pelos nossos melhores desejos e sonhos por vidas felizes daqueles que esperam por nós

Que anseiam nosso retorno, nosso olhar, ouvir a nossa voz.

Ai amor, só posso te dizer

gratidão.

Reciprocidade.

Generosidade.

Vida minha que se parte e se reajunta ao te encontrar.

Saudades de nós naquele lugar.

Na rua, na calçada, na escola.

Nossa escola vive um momento muito diferente, estamos em meio a uma reforma da estrutura física completa da escola, da quadra às janelas. E começamos tarde as aulas, fizemos a jornada pedagógica com todos, no mesmo período sugerido pela SEC BA, quando tínhamos algumas salas disponíveis fizemos um plano para voltarmos as aulas, fizemos uma nova jornada, reunião com professores, a diretora do NTE 25 estava presente, foi um momento para discutir o DCRB, as novas orientações, planejar as aulas, estudar as novas disciplinas que construímos para o Novo Ensino Médio, este ano seriam as turmas de primeiras e segundas séries que iriam começar a ter aulas de música, artes, produção textual, iniciação científica, astronomia, entre outras.

Mas quando começamos, veio a pandemia, conversamos com os pais, orientamos sobre o que era, que vírus era esse e porque ele estava nos obrigando a parar.

Não tivemos a oportunidade de fazer a primeira aula com os alunos, o acolhimento, aquelas mensagens de boas vindas, ao contrário, foram mensagens para cuidarem-se, protegerem a si e seus familiares, sobre o que significava estes novos tempos que iríamos vivenciar, que teria feito a escola "parar".

A secretaria da escola continuou funcionando, as gestoras da escola indo todos os dias, os funcionários faziam escala para atender ao público que ia tirar dúvidas.

Começava a chegar mensagens o tempo inteiro, de cidades fechando suas entradas, parando seus comércios, tudo parecia parar. Meu vizinho não parava de ouvir aquela música de Raul Seixas, 'O dia que a terra parou'. Todas as notícias na TV, nas ruas, as pessoas assustadas, os números das mortes começaram a aumentar, as pessoas mais religiosas começavam a pregar sobre o fim dos tempos, parecia o apocalipse.

Ficamos atônito, inertes, ansiosos, sensíveis, nos afastamos por medo. Mas com o tempo vimos que seria em conjunto que poderíamos passar por tudo isso com mais leveza no coração.

Nos grupos de whatsapp dos líderes do ano passado, fomos nos articulando, enviando materiais, apostilas, PDFS, os roteiros da SEC BA, podcasts, filmes, livros literários em PDF. indicações de canais no youtube de diversas disciplinas, de cursos gratuitos preparatórios para o ENEM.

Guardei pra ti uma flor, uma amor

Esperança que no retorno possamos achar no abraço da saudade a cumplicidade que antes tínhamos

Pra ti guardei a gratidão que aprendi nestas jornadas

A reciprocidade que compartilharam comigo quando me senti só

O cuidado, este é o melhor presente

Está cheio de paz, de carinho, escuta...

Aprendi que é nesta escuta que podemos reconhecer a vitalidade que há na forma da voz

A vida que surge no meu silêncio, no som da tua voz.

Encontrei na formação e no trabalho alento, segurança e esperança; dizem que esperança nos faz ansiar por algo que não pode vim, eu discordo a esperança nos faz caminhar, percorrer caminhos para encontrar aquilo que mais desejamos; sei que nosso trabalho poderia ser maior, que muitas coisas emperram, a colaboração e as relações entre alunos, professores, coordenação poderia ser mais fortalecida, mas estamos caminhando, porque temos esperança.

Estamos fazendo nosso AC, nos encontramos virtualmente pelo google meet nas sextas feiras, dia que todos concordaram ser mais leve, mais tranquilo, discutimos textos sobre O amor como pratica de liberdade de Bell Hooks, A máscara de Grada Kilomba, Carta para as mulheres do terceiro mundo de Glória Anzalduá, o texto de Edgar Morin que foi indicado para nós aqui na formação também, sobre incertezas; o texto sobre o cuidar, levamos para nossa formação da escola. E também sobre o ensino híbrido, para este momento colegas coordenadores pedagógicos do NTE 14, Jamile e César, mediaram as discuções, convidamos a todos, tinha pessoas de vários NTES, professores/as e coordenadores/as, foi grande, colaborativo e rico de conceitos, informações e aprendizados.

Reuniões diversas estamos fazendo, na escola, no NTE, entre professores, gestores, coordenadores/as pedagógicos/as, pretendemos realizar um momento on line com os alunos da escola agora que estamos no setembro amarelo, mês para lembrarmos da prevenção ao suicídio. 

Nossa escola, como tantas outras, como toda a sociedade, tem adoecido, temos criado uma sociedade de rostos harmonizados nas ruas, nas telas da TV, rostos harmonizados através dos filtros dos aplicativos das redes sociais, e mente emocionalmente desarmonizadas. Precisamos ter o cuidado de falar sobre questões que perpassam pela resiliência, pelo cuidar de si e do outro, do amar-se, aceitar-se. 

Especialmente em um momento tão deliciado que estamos vivenciando, não tem sido fácil, para ninguém, nenhum de nós.

Mas vejo também pessoas totalmente desesperadas por viver, nas ruas, como se quisesse tomar de volta aquilo que lhes foi tirado a força sem pedir licença, sem mandar aviso. Pessoas que se arriscam e nos colocam em risco também. Seria coragem? Seria suicídio? Necessidade de consumir aquilo que nos já foi condicionado? Máquinas? Humanidade?

Sem data para voltar, quero apenas me despedir

Ave Maria há.

Histórias para sonhar também.

Levo na bagagem sonhos e realidades

dúvidas e certezas.

Dúvida de quando te verei de novo

Certeza de que mesmo que demore, ainda estou a te amar

Do outro da rua, da estrada, da cidade, da montanha

Estamos a espera um do outro.

Como um noivo que espera sua noiva,

como a avó que espera a visita de seus filhos e netos,

como as crianças que esperam pela contação de histórias de sua pró,

Teremos histórias para contar, quando tudo voltar.


O desejo que tenho é que mesmo cansados, possamos encontrar fôlego e ânimo na expectativa da volta, do abraço, do olhar nos olhos e vê a alegria neles. Metades serão inteiras. Os estudos dos textos escolhidos guiam-nos para a perspectiva de cuidado e da escrita, a escrita de si e do outro, do ensino e da aprendizagem re-feitas e re-criadas na reciprocidade, na generosidade autênticas.

Desejosa de que possamos nos instrumentalizar e nos empoderar de crítica, conhecimento e amor como prática, que nossas ações, esforços e planejamentos sejam voltados para a crença em si e no outros, em capacidades conjuntas guiadas pelos mesmo objetivos, o entendimento que comunidade não é apenas uma palavras, mas é um conjunto de símbolos, significados e sentidos coletivos, portanto, humana e complexa.

Carrega em si identidades, memórias, sonhos... Que caminhemos juntos, juntas, no mesmo sentido, que nossas ideias entrecruzem-se e criem novas e caminhem seguindo utopias de uma nova sociedade, uma nova educação, para a diversidade, para a vida, para o amor e para a liberdade.




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